sexta-feira, 21 de março de 2014

ESCREVER CURA A ALMA

Por: Pericles Gomes

Parti. Mas parece que ainda não. A saudade é colossal, as lembranças são atormentadoras. Não pensei que fosse tão difícil, quanto está sendo. Sempre estive perto das pessoas que amam e agora distante até demais.

Quando é manhãzinha, lembro-me dos gritos e choro matinal de Aghata Cecília, hoje eles me soam como música... vento no litoral da Legião Urbana. Às tardes, Leandro Bahiah chegava lá em casa e sempre, isso mesmo... Sempre me encontrava no computador lendo ou escrevendo algo (na maioria das vezes insignificâncias). Ou se não, estava no Face. No fim da tarde partia correndo pro campo, pra famoso baba das 16:30 horas, que sempre começa às 17:00 horas. E por fim, à noite lá estava eu na casa de Cabeça ou então na casa de Thaylana "batendo papo e tomando café". Madrugada chegava, eu acessava mais um pouco, assistia os dois e as vezes os três talk's show ( Programa do Jô, Agora é Tarde e The Noite) e depois ia dormir. No dia seguinte a minha rotina se repetia (quase que sacramentalmente).

Quantas vezes esbravejei, briguei comigo e disse que não aguentava mais aquela  monotonia. Estava cansado daquela mesmice. Pois é. No entanto hoje sinto falta de tudo aquilo. E ainda tenho a coragem de admitir: "eu era feliz e nem sabia". Porque tinha ao meu lado quase todas as pessoas que amo.

Hoje levanto necessariamente às 06:00 da manhã e durmo às 22:000. Não estou reclamando e nem triste por isso. Mas confesso que a primeira vista foi assustador. Não sabia o que fazer, estava me sentindo uma "barata tonta". Pior mesmo foi à noite. Não conseguia dormir, virava dum lado pro outro do colchão e nada...

Então de repente me veio uma luz... tenho certeza que foi Deus. Um caderno na estante e ao lado uma caneta esferográfica azul. Era Deus me dizendo: "escreva meu filho, escreva". Assim o fiz.

Com um caderno, uma caneta, a saudade e a solidão, não deu outra. As palavras começaram a surgir freneticamente. As poesias saiam sem que eu fizesse muito esforço.

Foi então que depreendi: "o melhor remédio contra a saudade e a solidão e a tristeza é escrever". Agora quando a tristeza teimar e resolver me atormentar... simplesmente escreverei. Escreverei pra mim, escreverei não sei o quê. Mas escreverei. Pois escrever cura a alma da gente.

segunda-feira, 10 de março de 2014

A DOR DAS DESPEDIDAS

 Por: Pericles Gomes

Ainda não me acostumei com despedidas. São sempre doídas. Finjo que entendo os motivos que levam alguns amigos a partirem. Mas meu coração afetuoso, não compreendi de jeito nenhum. Vivo sempre tensionado entre a razão e a coração. E confesso para vocês que em mim tudo é coração e nada razão.

Perdi as contas de quantos vezes precisei chorar pela partida de tantos amigos/irmãos. As consternações são diluídas, quando aparecem os motivos, as explicações. (Mas mesmo assim a dor continua lancinante). Normalmente eles (os motivos) são parecidíssimos, para não dizer iguais.

É a falta de emprego, a falta de acesso a Educação (faço questão de de colocar educação com E, maiúsculo), as oportunidades que não surgem, uns poucos usurpando nossa Ibitupã sem que nada possamos fazer... E por ai vai.

Somente este ano é incontável o número dos que se foram. E ainda outros tantos já estão com as malas arrumadas, e muito em breve partem. Partem levando consigo a dor. Todos os que se foram e todos que ainda irão, são unânimes em dizer que foram ou vão, mas se pudessem ficariam.

Só na semana passada dois se foram, Arthur e Ian. O abatimento estava estampando no rosto dos meninos. Deles e de seus amigos. Sofre quem parti e sofre quem fica. O desgosto era eminente. As lágrimas não cessavam, a tristeza era notória. Eles se foram prometendo que muito em breve voltariam. 

A esperança de voltar, sempre é maior que a dor da partida.

Quantos outros ainda terão que partir? Quantas lágrimas ainda caíram, para que este êxodo se acabe ou pelo menos diminua? Preparamos a mão de obra e qualificamo-la (para construir a tão desejada Ibitupã) e entregamos de graça (o que é pior) para os grandes centros. 

Termino perguntando: Quantos outros Ians e Arthurs precisaremos perder, para quê a gente comece a se importar com isso?

Sinceramente torço, para que isso acontece com maior brevidade possível. Caso contrário, estaremos fadamos ao fracasso. E ao invés de mãe, Ibitupã se torne ainda mais uma madrasta cruenta e pouco interessada com seus filhos.





segunda-feira, 3 de março de 2014

QUE DIREI EU DE MIM MESMO?

Por: Pericles Gomes

Começo a difícil missão de responder este autoquestionamento, recordei o que durante muito tempo tentei ser. E recordar  segundo o Rubem Alves é uma "palavra bonita, que quer dizer visitar de novo aquilo que o coração guardou"

Fiz da minha alma um relicário onde ficaram escondidos retalhos de tudo o que não consegui ser. Alguém pode pensar que por conta disto alguma depressão se apoderou de mim. Respondo, sem ser perguntado que não. Aconteceu justamente o contrário. Depois de muitas tentativas, depreendi que a minha busca era lunática, retrógrada e sem fim. E descobri ao final,  que sou apenas retalhos de tudo aquilo que ainda não escrevi. Uma poesia inacabada de Leandro Bahiah.

Como uma menina mimada chorei, fiz birra e desejei colo. Oportunista que fui,  pedi aos amores que tive na vida, tal como o Mário Quintana pediu: "Se tiver de me esquecer, me esqueça... Mas bem devagarinho.". Alguns confesso que não atenderam ao meu pedido. Mas pior mesmo mesmo foram aqueles que nem aconteceram. Tive muito amor negligenciado. Daí eu escrever a um bom tempo atrás que: "a negligência do amor é o pior de todos os venenos". Quem experimentou sabe do que estou falando.

Travei bravatas  contra os meus instintos e perdi incontáveis vezes. Disse não quando a resposta deveria ter sido sim. E sim quando deveria ser não. Me autoflagelei e por vezes me privei de pedir perdão. Perdão pela minha ingenuidade, que descobri a pouco tempo ser congênita. Portanto, sem possibilidade de reversão. Quem sabe amanhã, eu consiga pedir clemência ao Criador. Ontem mesmo farei isso.

Indubitavelmente pereço por ser quem sou...eu mesmo. E careço ainda mais de ser quem eu sou... eu mesmo. Esta celeuma causada pelo meu padecer e pelo meu carecer é o que me faz ser quem eu sou afinal... eu mesmo. Complicado entender sem nenhuma dúvida. Volta e meia faço permuta comigo mesmo. O que dificulta ainda mais a compreensão. Não que eu queira ser compreendido. Vislumbro a rejeição. Eis aí a formula para me entender: "antes me renuncie".

Da minha cercania não resta absolutamente nada que eu não conheça. Conheço-me e reconheço-me nas tardes sem inspiração/ nas noites de invernos/ e nos dia quentes de verão. No voou das borboletas/ na fadiga das formigas/ na morte das sementes/ e no aperto da mão inimiga...

Gosto de avesso, sou apaixonado pela contradição, me afeiçoei as coisas miúdas. Comecei a descobrir o céu no terreiro da minha casa. Repito junto com o Padre Fábio de Melo: "não se toca o céu se não tem os pés no chão".  

Concluo sem chegar a lugar algum. Dizendo muito, ainda não disse nada. Fico feliz por ser previsível, panfleto rua a fora... que ando a esmo. Perdido nos meus próprios passos. 

Vocifero a melhor definição que encontrei sobre mim e foi o grande Millôr Fernandes quem deixou escrito: "Eu sofro de mimfobia, eu tenho medo de mim mesmo e me enfrento todo dia".