segunda-feira, 3 de março de 2014

QUE DIREI EU DE MIM MESMO?

Por: Pericles Gomes

Começo a difícil missão de responder este autoquestionamento, recordei o que durante muito tempo tentei ser. E recordar  segundo o Rubem Alves é uma "palavra bonita, que quer dizer visitar de novo aquilo que o coração guardou"

Fiz da minha alma um relicário onde ficaram escondidos retalhos de tudo o que não consegui ser. Alguém pode pensar que por conta disto alguma depressão se apoderou de mim. Respondo, sem ser perguntado que não. Aconteceu justamente o contrário. Depois de muitas tentativas, depreendi que a minha busca era lunática, retrógrada e sem fim. E descobri ao final,  que sou apenas retalhos de tudo aquilo que ainda não escrevi. Uma poesia inacabada de Leandro Bahiah.

Como uma menina mimada chorei, fiz birra e desejei colo. Oportunista que fui,  pedi aos amores que tive na vida, tal como o Mário Quintana pediu: "Se tiver de me esquecer, me esqueça... Mas bem devagarinho.". Alguns confesso que não atenderam ao meu pedido. Mas pior mesmo mesmo foram aqueles que nem aconteceram. Tive muito amor negligenciado. Daí eu escrever a um bom tempo atrás que: "a negligência do amor é o pior de todos os venenos". Quem experimentou sabe do que estou falando.

Travei bravatas  contra os meus instintos e perdi incontáveis vezes. Disse não quando a resposta deveria ter sido sim. E sim quando deveria ser não. Me autoflagelei e por vezes me privei de pedir perdão. Perdão pela minha ingenuidade, que descobri a pouco tempo ser congênita. Portanto, sem possibilidade de reversão. Quem sabe amanhã, eu consiga pedir clemência ao Criador. Ontem mesmo farei isso.

Indubitavelmente pereço por ser quem sou...eu mesmo. E careço ainda mais de ser quem eu sou... eu mesmo. Esta celeuma causada pelo meu padecer e pelo meu carecer é o que me faz ser quem eu sou afinal... eu mesmo. Complicado entender sem nenhuma dúvida. Volta e meia faço permuta comigo mesmo. O que dificulta ainda mais a compreensão. Não que eu queira ser compreendido. Vislumbro a rejeição. Eis aí a formula para me entender: "antes me renuncie".

Da minha cercania não resta absolutamente nada que eu não conheça. Conheço-me e reconheço-me nas tardes sem inspiração/ nas noites de invernos/ e nos dia quentes de verão. No voou das borboletas/ na fadiga das formigas/ na morte das sementes/ e no aperto da mão inimiga...

Gosto de avesso, sou apaixonado pela contradição, me afeiçoei as coisas miúdas. Comecei a descobrir o céu no terreiro da minha casa. Repito junto com o Padre Fábio de Melo: "não se toca o céu se não tem os pés no chão".  

Concluo sem chegar a lugar algum. Dizendo muito, ainda não disse nada. Fico feliz por ser previsível, panfleto rua a fora... que ando a esmo. Perdido nos meus próprios passos. 

Vocifero a melhor definição que encontrei sobre mim e foi o grande Millôr Fernandes quem deixou escrito: "Eu sofro de mimfobia, eu tenho medo de mim mesmo e me enfrento todo dia". 


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